Definidores de Deus

Na casa de amigos comuns, o jovem e inteligente casal curitibano, com mestrados e viagens pelo mundo, me perguntou, primeiro ele, depois ela, como era ser inteligente, leitor de tantos livros, senão formado, ao menos informado em filosofia e antropologia e, mesmo assim, crer que Deus andou pela Palestina, nasceu de uma virgem, morreu numa cruz e salvou o mundo, que continua sem o menor sinal de salvação!

Eu tinha 60 anos e o casal menos de 35. Respondi que era uma reposta que não lhes poderia dar. Talvez estivéssemos diante de dois tipos de inteligência. Eu não entendia o que eles entendem e eles não entendiam o que eu entendo.

Perguntei se sabiam o que significava intus-legere. Responderam que não sabiam grego. Expliquei que era latim...Perguntei se algum dos dois sabia lidar com reatores atômicos. Não sabiam. Mas sabiam do que se tratava.

Fui adiante e disse a eles que a idéia de Deus era um reator que turbinara minha vida e que me dava energia e luz, mas que eu mal sabia lidar com ela, menos ainda jogá-la na cabeça dos outros. Então, eu não poderia responder a eles o que é intus legere dentro dessa idéia que eles achavam absurda. Eles também sabiam da existência de usinas atômicas, mas não sabiam lidar com elas. Teriam que aprender como a fissão produz aquela energia poderosa. E levavam vantagem sobre mim porque, se depois de muitos anos, aprendessem a explicar a energia atômica, eu continuaria sem poder explicar porque, sendo inteligente como eles, acredito que Deus existe e agiu e age no mundo.

Para eles não havia mistérios; para mim, havia! Eu conseguia crer em coisas que não sei explicar. Eles, não!

O rapaz disse:- O Senhor é um sofista de primeira geração!

Respondi dizendo:

-Viu só como você tem adjetivos e definições para tudo? Eu não tenho!...

E ela, com ironia,

- O Sr. é inteligente, só não é lógico.

Respondi:

- E vocês são lógicos e inteligentes. Só não conseguem é imaginar algo além ou aquém de seus conhecimentos e de sua experiência de 30 anos...

Para quem acha que o jantar acabou em raiva e pancadaria adianto que terminou em respeito e amizade. Até hoje eles me telefonam. Ganhei dois amigos céticos!

Por: Padre Zezinho .scj